Grandes Esperanças


Título: Grandes Esperanças (Great Expectations)
Autor: Charles Dickens
Editora: Penguin e Companhia das Letras
Tradutor: Paulo Henriques Britto
Páginas: 704


        

Uma magnífica história que de tão bem conduzida justifica o título de grande clássico da literatura mundial. Uma leitura leve e saborosa, ainda que muito profunda, em toda sua constituição.

Grandes Esperanças conta a história do pobre e solitário Pip, criado pela irmã mais velha que o repudia e o marido. O jovem começa a alimentar ambições em se tornar um cavalheiro quando, ao frequentar a casa de uma rica milionária, conhece a bela Estella. Suas vontades são satisfeitas quando recebe uma herança misteriosa causando uma grande reviravolta em sua vida e em sua essência.

Narrado em primeira pessoa, o livro primeiro nos faz apiedarmos do jovem protagonista para depois repudiar cada atitude que o mesmo toma para que se torne um cavalheiro. No entanto, talvez o ponto crucial da magia desse romance seja que por vezes não nos sentimos seguro de que não nos identificamos com a mudança de caráter de Pip. O fato de Dickens deixar sempre acesa uma chama de simplicidade e inocência naquele rapaz mantem um laço de identificação com o leitor.

Toda essa áurea é mantida graças à personagem mais enigmática do livro, a bela Estella. Amor platônico de Pip, ela é sem dúvida a base de toda essência do protagonista. É a razão de tudo, o norte da história. Sua presença é tão marcante que chega nos afligir quando a mesma some por diversas páginas. Nos vemos clamando por sua presença. Em determinado momento Pip desabafa:

De acordo com minha experiência, o conceito convencional de apaixonado não pode ser sempre verdadeiro. A verdade pura e simples é que, ao amar Estella com um amor viril, eu a amava simplesmente por achá-la irresistível. De uma vez por todas; eu tinha a dolorosa consciência, muitas vezes, ainda que nem sempre, de que eu a amava apesar da razão, apesar das probabilidades, apesar da minha paz, apesar das minhas esperanças, apesar da minha felicidade, apesar de tudo aquilo que  me desanimava. De uma vez por todas; eu não a amava menos por saber o que sabia, e o que sabia não tinha o menor efeito no sentido de me desestimular; era tal como se eu estivesse absolutamente convicto de que ela era a própria encarnação da perfeição humana.” (pg 327)

Talvez não haja descrição tão realista quanto essa da atração física. E ao fim, perante a grande redenção moral que é a obra de Dickens, mais do que um clímax, uma das emoções maiores talvez seja a constatação de que é Estella a voz da sinceridade, razão e honestidade. É algo que somente quem ler poderá entender esse ponto de vista.

Por fim, cabe aqui ressaltar a ótima edição do livro. Com tradução de Paulo Henriques Britto e notas de Charlotte Mitchell que ajudam a inserção do leitor na Londres do século XIX recriada por Dickens.

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