Homens, Mulheres e Filhos

Título Original: Men, Women & Children
País: EUA
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman e Cressida Wilson
Elenco Principal: Jennifer Garner e Adam Sandler
Estreia no Brasil: Novembro de 2014
*Filme assistido durante o Festival de Cinema do Rio*


Jason Reitman é um diretor que construiu uma base sólida em sua carreira ao conceber Obrigado por fumar, Juno e Amor sem escalas em seus primeiros três longas-metragens como diretor. Enfrentou duras críticas com seus dois trabalhos subsequentes mas ainda desperta grandes expectativas quando lança um novo filme e, o caminho escolhido na busca de uma reconciliação com as câmeras foi inteligente ao não simplesmente tentar repetir sucessos anteriores, mas ousou um pouco de mais, filosofando forçadamente na tentativa de estabelecer um significado maior à sua história.

Esta nova película faz um estudo dos laços afetivos da nossa sociedade nessa era onde a comunicação virtual é dominante. O roteiro, criado a partir do livro homônimo de Chad Kultgen, faz um recorte do cotidiano de cinco famílias de uma pequena cidade dos Estados Unidos, cada uma representando um caso extremo na forma como os pais educam seus filhos em relação à internet. Possui uma divisão clara na dinâmica das personagens, sendo que uma primeira parte, dominada por uma narração em off (Emma Thompson) preocupa-se em introduzir cada uma daquelas famílias e suas rotinas, enquanto a parte final se propõe a desenvolver essas histórias junto com a inserção de elementos novos à vida de cada uma das personagens que resultará na quebra daquele cotidiano que era tomado como seguro e/ou normal.

O diretor procura ser um pouco mais impactante quando tenta demonstrar o quanto as novas tecnologias de informação têm mudado nossas vidas. Para isso, insere elementos visuais em seus planos que permitem que os espectadores vejam o que as personagens fazem em seus smartphones e computadores. Um caso interessante por exemplo surge em uma cena onde a câmera, acompanhando a chegada de um aluno na escola, sobe, aumentando seu ângulo de visão, e a tela é tomada pelas imagens das telas dos celulares de todos os alunos que ali transitam. Estão todos conectados e desconectados ao mesmo tempo.

Mesmo que favorecido por uma rica escolha do elenco, não vemos um ou outro ator/atriz se destacarem, o que evidencia a ideia de que o longa não está preocupado com a história particular daquelas famílias, mas sim com a ideia geral que surge a partir daqueles relatos. Por isso, Homens, mulheres e filhos talvez seja o primeiro trabalho hollywoodiano que, após anos na era das tecnologias de informação, trata deste tema como um protagonista.

A abordagem de Reitman acaba sendo, de certa forma, pessimista, uma vez que, embora possamos esperar mudanças comportamentais daquelas famílias após a experiência que cada uma passa, fica no ar a ideia de que não há estratégia que evite tais consequências (um pouco drásticas por sinal). Ainda assim, um efeito colateral surge esperançosamente ao permitir que avaliemos aqueles comportamentos como falhos por abandonarem o principal ingrediente na base de uma educação familiar: o diálogo presencial.

Contudo, como dito previamente, o que não soou orgânico foi a escolha do pensamento elaborado por Carl Sagan, conhecido como Pálido Ponto Azul, para amarrar todas aquelas histórias contida no filme com uma filosofia externa à elas. A ideia remete à insignificâncias de nossos atos, aqui na terra, quando pensados em uma escala cosmológica, de cerca de bilhões de anos. No entanto, não acho que a discussão iniciada por Reitman tenha uma ligação profunda com essa ideia, a ponto de ela introduzir e concluir o longa. Toda a problemática se concentra em uma ordem de grandeza temporal de gerações humanas, sendo que aquelas ações (ou seja, nossas ações no mundo de hoje) são extremamente relevantes e formarão uma base da sociedade futura. A maneira como lidamos com toda essa tecnologia não é um mero pálido ponto azul, mas sim um resplandecente ponto que cresce sob nossa influência.



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