Argo

Título Original: Argo
Pais: EUA
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio
Elenco Principal: Ben Affleck, Alan Arkin e John Goodman.
Estreia no Brasil: Novembro de 2012




Embora o novo "baseado em fatos reais" de Hollywood inicie esclarecendo, ainda que sutilmente, a direta participação dos EUA na política do Irã que resultou no sequestro da embaixada americana local, o que se vê no restante da projeção até que não é mais uma americanização mas sim uma "hollywoodianização" de um capítulo importante da história mundial.

O enredo gira em torno dos seis funcionários da embaixada americana que fugiram antes da tomada do local e se esconderam na casa do embaixador canadense Ken Taylor (Victor Garber). No entanto, é uma questão de tempo até os revolucionários descobrirem que há fugitivos, o que coloca em risco a vida dos diplomatas. A CIA então, junto com Tony Mendez (Affleck), o maquiador John Chambers (Goodman) e o produtor Lester Siegel (Arkin), elaboram um plano de fingir a filmagem de um filme de Hollywood no Irã para poder sair com os seis refugiados do país.

Elaborado a partir do livro de Tony Mendez (The Master of Disguise) e do artigo de Joshuah Bearman (Escape from Tehran), o roteiro de Chris Terrio oscila entre os momentos de tensões que se viveu durante aqueles dias onde pessoas eram enforcadas em guindastes no meio das ruas e um humor caloroso em Los Angeles que desvia a seriedade do assunto até culminar em um amontoado de cenas com um suspense que, mesmo sendo angustiante, são invenções desnecessárias que só torna a trama mais artificial.

O ponto alto de toda a projeção talvez seja o trabalho de direção de Ben que conduz com segurança toda a narrativa e, com o paralelo entre as cenas recriadas e seus equivalentes em fotos reais, nos mostra o delicado trabalho de pesquisa feito pela sua equipe. Ele é inteligente ao insinuar mensagens em cenas que a princípio soam simples e comuns (como as que envolvem a empregada de Ken em um diálogo com agentes iranianos e sua participação final que evidencia o que acontece com quem auxilia um inimigo de estado).

Mas estes pontos positivos acabam se virando contra ele e seu roteirista pois evidenciam a omissão de fatos importantes que fizeram parte daquele drama e que certamente é de conhecimento geral. Nada se fala das várias tentativas do presidente Jimmy Carter, todas mal sucedidas, de resgatar todos os reféns (a mais famosa foi a operação Eagle Clow, que virou piada internacional por resultar na morte de soldados americanos devido à não previsão de uma tempestade de areia que abateu 3 aeronaves americanas no Deserto do Sal). Muito menos das negociações de liberação dos reféns feita pelo presidente eleito no final do ano de 1980, Ronald Regan, que foi acertada mas programada para acontecer somente depois de sua posse no início do ano seguinte.

Fazer cinema hoje em dia requer seriedade com o que se fala. Uma inspiração proveniente de fatos reais deve ter respeito suficiente para com seus espectadores para não negligenciar acontecimentos cruciais em vez de rechear a trama com cenas de tensão clichês que se resolvem no limiar do último segundo restante (a reserva das passagens, o telefonema à Hollywood, o fechamento do embarque e a perseguição ao avião).

Não é uma questão de que Argo distorce a realidade em prol dos americanos e nem que seja um filme ruim. A operação foi sim bem sucedida e é um marco na história mundial que merece ser contada e recontada e o longa até presta explicitamente sua homenagem ao governo canadense que foi essencial no resgate. Mas é lamentável ver um trabalho tão bem feito atingir seu clímax preocupando-se somente em tornar tudo uma aventura eletrizante.



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