Nebraska

Título Original: Nebraska
País: EUA
Direção: Alexander Payne
Roteiro: Bob Nelson
Elenco Principal: Bruce Dern, Will Forte, June Squibb e Stacy Keach
Estreia no Brasil: Fevereiro de 2014
(Crítica escrita durante o Festival do Rio)


Nem sempre pais e filhos são melhores amigos, principalmente na juventude, é muito natural um afastamento entre eles. A divergência de ideias e o instinto protetor dos velhos entram em confronto. Mas nunca é tarde para tentar se reaproximar deles, e à medida que amadurecem os filhos, toma-se consciência da importância que é a figura paterna. O longa de Alexander Payne busca contar uma história natural dessas. A chance que um filho, mal sucedido profissionalmente e na vida amorosa, vê em entender melhor seu pai ao apoiá-lo em uma de suas loucas ideias.

David (Forte) é o filho mais novo dos Grant, funcionário de uma loja de aparelhos de som, abandonado pela namorada de longa data, e vendo Ross (Odenkirk), seu irmão mais velho, se tornar âncora de um importante jornal da TV. Constantemente deve lidar com as fugas de seu pai, Woody Grant (Dern), alcoólatra, que acredita ter sido premiado com 1 milhão de dólares e decide ir, nem que seja a pé, de Montana à Nebraska para receber seu dinheiro. David, mesmo sabendo que o prêmio não passa de uma carta propaganda para angariar assinantes a uma editora de revistas, toma a decisão louca de levar seu pai  até Nebraska, imaginado poder passar um tempo mais próximo de seu velho.

O roteiro do estreante Bob Nelson foca principalmente no velho Woody e na forma como este se relaciona com os demais personagens. Constrói um protagonista de poucas falas mas sempre objetivo, muito diferente da esposa e dos filhos. São as características individuais de cada um que torna o filme tão prazeroso de se assistir,  seja na forma curta e grossa pela qual Woody se relaciona com os outros, na insuportável prepotência de sua esposa Kate (Squibb) ou na simpatia e insistência de David para fornecer bons momentos a seu pai. Todos eles são hilariantes ao seu estilo particular, mas a atuação que mais se destaca é a de Bruce Dern, que consegue fazer do pai pessimista uma figura simpatizante antes mesmo das revelações que a narrativa nos guarda.

Embora possa ser tomado como demasiado simplista, o roteiro é extremamente eficaz por fazer de cada cena importante para a apresentação dos personagens de seu universo diegético. E é admirável quando vemos a história ganhar novos rumos, com a parada na cidade natal de Woody e Kate, e entendemos como ele se tornou o homem que é hoje. Mais surpreendente do que isso, vemos que aquela família se ama, à maneira deles é bem verdade mas, se amam e se entendem.

A escolha de filmar em preto e branco cai muito bem aqui. A história que nos é contada é carregada de um vazio que não é comum aos tempos modernos. Dessa forma, ao mostrar aquelas paisagens do oeste americano, as pequenas cidades com suas ruas vazias, tudo monocromático, entendemos melhor o quão diferente é aquela vida.

Merece destaque também a habilidade do diretor por não deixar seu desfecho ser um legítimo "arranca-lágrimas", não perdendo o humor ao exaltar o nosso herói. Dessa forma, Nebraska não consegue ser perfeito, mas é certamente um dos filmes mais prazerosos do ano.


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