Grandes Livros... Grandes Filmes?


Não é de hoje que livros são adaptados às telas do cinema, criando diversificadas opiniões entre público e críticos amantes das obras literárias. Mas alguns títulos foram tão bem revividos cinematograficamente que alcançaram o status de marco da classe, Dança com Lobos, Scarface, O Iluminado e, mais recentemente, as fantasias O Senhor dos Aneis e Harry Potter. E antes que especulem, já entregamos de bandeja que este texto foi sim motivado pelo término dessa última saga com o recém lançamento de Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2. No entanto, a lembrança de fracassos como As Crônicas de Nárnia, O Código Da Vinci, A Letra Escarlate, O Homem Bicentenário, entre outros, nos faz perguntar: o que faz de uma adaptação um grande filme?

A primeira parte da resposta é simples, e são justamente todos os critérios que são necessários para se ter um excelente filme, ótima direção, roteiro, atuações, trilha, fotografia, arte, em fim, o conjunto da obra deve ser tal que seus pontos positivos sobressaiam-se sobre as falhas. Mas uma parte crucial é a “independência” do filme com relação ao livro. Ele não deve simplesmente seguir o que está impresso nas páginas, a dinâmica de se conhecer uma história lendo o livro ou vendo um filme são completamente distintas. E sabendo que, quando se trata de clássicos da literatura, a maioria do público já sabe o final, é preciso surpreender de alguma outra forma. O mais importante é reproduzir emoções de igual valor ao que sentimos quando lemos aquelas páginas.

Ao entrarmos no mundo da literatura, a construção daquele universo que nos recebe fica a cargo de nossa imaginação, qualidade única em cada indivíduo, natural então sempre nos revoltarmos com alguns trechos ou determinados alterações desses longa metragens. Alterações essas que podem ser aceitáveis, admiráveis, desastrosas ou até sem necessidade. Em Kick-Ass, mudanças radicais acabaram por resultar em um filme dotado de uma originalidade inovadora nesse ramo de super-heróis, qualidade que já continha nos quadrinhos, mas contada nas telas de uma maneira muito mais inteligente. A trilogia dos anéis, baseada nos três livros de Tolkien, também teve seus cortes e mudanças que não diminuíram o valor da história e fechou muito bem essa fantasia maravilhosa, tornando-se um dos grandes trabalhos cinematográficos já realizados. Nenhum desses dois exemplos citados desvalorizou suas obras inspiradoras, pelo contrário, eles completam o trabalho passando a ser parte da forma como se conta a história. Quem assiste a esses filmes sem ler seus respectivos livros, irá buscá-los. E quem os já leu, irá se emocionar novamente frente à tela do cinema.

Casos magníficos ocorreram também em longas apenas inspirados nos livros, isto é, com uma história independente. Quem lê o incrível livro de Joseph Conrad, O Coração das Trevas, só irá conceber toda a idéia contida naquela aventura após assistir o trabalho de Coppola em Apocalypse Now, é como se o livro e o filme tivessem sido elaborados em conjunto. Embora o diretor tenha utilizado dos protagonistas e da idéia geral originais, ele adapta tudo ao cenário da guerra do Vietnã, uma tacada de mestre que resultou em um grande clássico do cinema. Fato semelhante ocorre entre o livro A Sangue Frio, de Capote, e o filme que basicamente conta como o escritor e jornalista desenvolveu sua obra literária. E nesse caso, não importa a ordem em que se conheça o filme ou o livro, os dois sempre se completarão.

A saga de Harry Potter não atinge tamanho grau de completeza para com seus livros, mas alcança os lugares mais altos na lista das adaptações para o cinema pela sua grandiosidade. Olhar cada filme separadamente nos fará apontar certas falhas, mas muito difícil dizer que algum deles foi um fracasso, ou algo abaixo da média. Isso é um resultado tremendamente positivo, foram dez anos, oito filmes, uma história complexa e uma gama de profissionais (de causar inveja a muitos cineastas) para realizá-lo de forma memorável. Cada uma das películas tem seus prós e seus contras. Se o primeiro título é perfeito em reproduzir o universo dos bruxos e a surpresa em cada nova experiência através dos olhos do protagonista, peca por não conseguir dar fluência ao enredo, acabando por deixá-lo como vários episódios soltos, sem uma dinâmica satisfatória conduzindo a trama. Já a primeira parte do filme final é impecável em transmitir toda tensão existente naquele momento e o cansaço psicológico dos heróis, sendo uma pena que a continuação não tenha mantido o mesmo nível, mas ainda sim, é um grande filme.

Com os filmes sobre a obra de Rowling chegando ao fim, bate-se o martelo consagrando mais uma vitória nessa árdua tarefa de dar vida aos livros. Muitas técnicas foram utilizadas por esses profissionais da sétima arte e esperamos que muitas outras possam ser descobertas para que vários outros grandes clássicos da literatura mundial sejam imortalizados também nas telonas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário