Ruby Sparks: A namorada perfeita

Título Original: Ruby Sparks
País: EUA
Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Zoe Kazan
Elenco Principal: Paul Dano e Zoe Kazan
Lançamento no Brasil: outubro de 2012

        

A "garota dos sonhos" sempre foi tema primoroso para comédias juvenis. A ideia de um garoto não popular ter ao um relacionamento com uma mulher a ser desejada por todos já gerou bastante pano pra manga nas telonas. Mas já que os nerds estão na moda, surge então a garota do sonho de um escritor de meia idade, aquela que completa na essência, não somente na estética. No entanto, a nova comédia acaba se tornando um romance, que passa de tragédia ao "felizes para sempre" de maneira muito banal.

Calvin (Paul Dano) é um escritor que obteve o sucesso precocemente e hoje vive em meio a um bloqueio literário. No entanto, após sonhar com um garota perfeita (a seu modo), desenfreadamente começa um novo romance no qual se vê quase que apaixonado pela sua personagem. Tudo se complica mais quando Ruby  (Zoe Kazan) ganha vida, surgindo repentinamente em sua casa para magicamente viver uma história de amor. Embora Calvin seja o tipo "cara certo", o relacionamento toma rumo que o faz interferir na sua criação, gerando efeitos colaterais devastadores.

Como dito no primeiro parágrafo, o grande problema do longa mora no roteiro, escrito por Kazan. O que começa suavemente cômico acaba por levantar questões pertinentes que são subestimadas pela jovem roteirista. Ao invés de se explorar a situação na qual se encontra os protagonistas ela tentar criar uma tenção trágica focada nos atores e não nas personagens. E tudo só vem a piorar ao sermos obrigado a encarar um final leviano por demais. Kazan cai no lado complexo de sua história, com questões que talvez não tenha previsto e não hesita em se adentrar nele, mas peca por não saber administrar-las seriamente.

ATENÇÃO: Spoilers no próximo parágrafo!!! Se não viu o filme é melhor não lê-lo.

Há dois pilares sendo rompidos com as desavenças do relacionamento. Ao pensar ter em Ruby a sua mulher perfeita Calvin sustenta a ideia de que o namoro deve ser guiado sob a suas rédeas o que o impede de refletir sobre si mesmo e como ele não possa estar sendo o "garoto dos sonhos" para sua parceira. Tudo isso é que é deixado de lado pelo roteiro. E a lição que Calvin tem no final é quase que um afronto quando leva todo o lucro ao restabelecer-se como o gênio escritor. É a única coisa que ele tira de toda aquela incrível experiência que teve. Além do mais, o ponto de vista de Ruby é sequer levado em conta. Como se sentiria uma mulher ao saber que foi criada a partir dos desejos de um homem? E ao não explorar Ruby, Kazan faz de sua personagem um eterna criação com memórias que cabem em algumas poucas dezenas de páginas. Como encará-la repentinamente como uma mulher real?

FIM DOS SPOILERS!!!

De qualquer modo, ao investir em seus atores é que se acaba tendo o maior ganho. Dano e Kazan constroem um ambiente realista, que por diversos momentos nos convença da seriedade das coisas. Sem falar que Antonio Banderas rouba a cena quando surge como o namorado da mãe de Calvin.

Apesar dos contras serem muitos, no geral, Ruby Sparks não é um filme detestável, e julgo estar até longe disso. Assim como Ruby, a história por si só ganhou vida, e é uma pena que Kazan não tenha permitido que ela crescesse e se desenvolvesse como deveria. Acabou cometendo tantos erros quanto seu personagem escritor.


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