Tropicália

Título Original: Tropicália
País: Brasil
Direção: Marcelo Machado
Elenco Principal: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee e Tom Zé.
Estréia no Brasil: Setembro de 2012

     


O Tropicalismo, movimento cultural brasileiro que ocorreu no final da década de sessenta, não é algo de simples definição. Não se esclarece o ocorrido naqueles anos, em todos os campos da arte; teatro, música, cinema e artes plásticas, com uma simples sentença ou parágrafo. É preciso ser, de certa forma incompleto, para que se alcance fidelidade digna mínima. Assim, Tropicália, de Marcelo Machado, ainda que cronológica, é perfeitamente indefinida, no sentido estricto da palavra. Aquele movimento artístico-ideológico era tudo menos coeso, as obras tropicalistas eram sinônimos de um conjunto de atitudes e estéticas que nem sempre partiram das mesmas matrizes ou visaram os mesmos objetivos.

Assim, o documentário realmente começa ao cortar a resposta que Caetano daria (ou não) sobre o que é o Tropicalismo. O título do longa assume o quadro central dando a partida para estudo daqueles três anos que mudaram o país. Não é um exercício de definição, mas sim uma efervescência de imagens raras, sons, músicas e depoimentos que procuram fazer o espectador sentir o que foi (ou é) o Tropicalismo. E assim é vitorioso. Com um trabalho de pesquisa impecável, traz-se à tela material até então desconhecidos, inéditos. Enquanto os depoimentos vêm tanto dos que ativamente participaram do movimento (e são muitos) quanto de figuras como Gláuber Rocha, Maria Betânia e Nara Leão.

O roteiro constrói o nascimento da ideia partindo dos trabalhos de Hélio Oiticica (quem usou pela primeira vez o nome Tropicália) passando pelos teatros agressivos do Grupo Oficina até as canções chaves Alegria, Alegria de Caetano Veloso e Domingo no Parque de Gilberto Gil. Abri-se assim, caminho para a exploração do movimento em si, que tanto foi amado e odiado pelas opiniões públicas, movimento estudantis e industria cultural. E aqui surge a figura mais marcante do longa, a que talvez protagonize o clímax do enredo, Tom Zé. O mais sucinto na descrição do Tropicalismo, o cantor e compositor baiano concretiza a abstração contida naquelas ideias.

E se foi na música que o tropicalismo teve sua mais forte atuação, a edição não deixa a desejar com suas inúmeras cenas-shows que povoam a projeção. E quando o tempo só permitiu o resgaste de fotos o trabalho artístico sobre as fotos preta e brancas revivem o sentimento da época. Mas Tropicália não se concentra somente nas implicações ideológicas e estético-comportamental daquele movimento, ele arrasta jundo com sua cronologia a desenvoltura das opiniões da esquerda nacionalista que existia na época até o estabelecimento do AI-5 que fez com que a sombra negra da ditadura que pairava sobre a cabeça do povo passasse a ser uma ação concreta do totalitarismo. Que culminou na deportação dos ignitores tropicalistas Caetano e Gil, que foram se reclusar em Londres.

E pode ser que aqui more a única falha de Machado. Mesmo não deixando de explicitar sua importância, o diretor não foi ousado o suficiente para explorar o gigantesco legado que aqueles baianos deixaram na nossa história. Há muito daquela Tropicália por exemplo no que é produzido de música hoje em dia, desde os trabalhos de seus próprios integrantes como as inovações de grupos como Nação Zumbi e Cordel do Fogo Encantado. Em 1967 a arte deixou de ser um instrumento burguês de domínio intelectual para assumir um forma sensorial de manifestação e a noção de "reinventar-se" é puramente tropicalista.

Dito isso, mais do que na música, no teatro e nas outras diversas formas de artes, Tropicália é um material de conhecimento obrigatório para qualquer um que se diga brasileiro.



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