O grande Gatsby

Título Original: The Great Gatsby
País: EUA
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann e Craig Pearce
Elenco Principal: Leonardo Di Caprio, Tobey Maguire e Carey Mulligan
Estreia no Brasil: Junho de 2013




Muito mais do que estritamente fiel à história, a nova adaptação da obra de F. Scott Fitzgerald é emblemática por se manter leal ao escritor em si e sua visão decadente dos anos 1920, seguindo à risca a estereotipização da sociedade americana daquela época através de seus personagens e os simbolismos contidos na trama.

O roteiro elaborado por Luhrmann e Pearce acompanha Nick Carraway (Maguire) em suas sessões de tratamento do alcoolismo com um médico que o incentiva a escrever sobre o verão de 1922 em Long Island, New York. Lá ele foi vizinho da grande figura enigmática e protagonista da sua narrativa, Jay Gatsby (Di Caprio), do qual se torna amigo ao ajudá-lo a se reaproximar da jovem Daisy (Mulligan), prima de Nick e casada com o adúltero Tom Buchanan (Edgerton).

A ideia de trazer Nick como um homem nostálgico e melancólico, e até mesmo ligá-lo a problemas com a bebida, é uma tacada duplamente bem sucedida pois, aproxima ainda mais o personagem com o próprio Fitzgerald (uma vez que Carraway é uma representação de parte da personalidade do autor), além de dar  uma razão pela qual ele nos conta sua história. Isso tanto fornece um lugar, no espaço e no tempo, para Nick na projeção como também o coloca como a própria voz do autor nas suas extensas meditações sobre a decadência do sonho americano na vida acelerada e material da década de 1920 dos EUA.

Aqueles anos foram uma época de prosperidade e excesso material sem precedentes na história. Fitzgerald retrata essa década em seu livro como uma era de decaimento dos valores morais da sociedade evidenciados na ganância e na vazia busca pelo prazer. Um dos tópicos explorados em O grande Gatsby é como os recém milionários, alavancados pelo boom do mercado de ações, se diferem da velha aristocracia das famílias mais ricas do país, que têm sua fortuna herdada de geração a geração.

Explorando esta discussão tão atual de Fitzgerald, Luhrmann faz constantemente as suas alusões ao materialismo que se vive nos dias de hoje a partir de sua trilha sonora, não descontextualizando então a sua versão da história original. Fundeada no Hip Hop, ritmo que assim como jazz (que embalava o glamour daquela época) é marca registrada dos afrodescendentes, essa trilha representa também um dos melhores exemplos de avareza que temos hoje, já que os protagonistas deste som estão sempre a esbanjar luxuosos e exagerados bens materiais.

O diretor também é muito talentoso ao utilizar o 3D como uma parte orgânica de seu trabalho, fazendo da tecnologia não só um artefato impressionista mas sim uma potente ferramenta para inserir ainda mais os elementos visuais em sua narrativa. Aliás, desde o começo da projeção percebe-se muito bem que Luhrmann sabe o que está fazendo e onde quer chegar, e por isso vemos também um resultado glorioso quanto a direção de seus atores. Leonardo Di Caprio vive um Jay Gatsby que é de invejar qualquer imaginação ao passo que, também surpreendente está Carey Mulligan, que absorve totalmente a personalidade de Daisy, sua graça, charme, inconstância e superficialidade. É bem certo também que há descuidos na dinâmica da trama que a fazem perder um pouco o ritmo em sua segunda metade e as repetições, idas e vindas de mesmo cenários contribuem para essa queda.

O grande Gatsby é isso, uma história de amor simples que serve como uma simbólica meditação dos Estados Unidos dos anos 1920. E este longa tem sua maior vitória por deixar viva a discussão aberta por Fitzgerald. Por nos mostrar a Dayse e Tom símbolos da família aristocrática que o que possuem de traquejo e bom gosto social lhe faltam de coração. Enquanto Gatsby tem um coração sincero e leal que o leva de encontro ao seu destino.

É um trabalho prazeroso de se assistir por deixar claro que os responsáveis incorporaram a ideia entendendo o que era imprescindível de se deixar de lado.


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