O Jogo da Imitação

Título Original: The imitation game
País: Reino Unido e EUA
Direção: Morten Tyldum
Roteiro: Graham Moore
Elenco Principal: Benedict Cumberbatch e Keira Knightley
Estreia no Brasil: Janeiro de 2015





Alan Turing, matemático britânico conhecido mundialmente como o pai da computação, desempenhou um papel importantíssimo durante a segunda guerra mundial ao idealizar uma máquina eletro-mecânica capaz de realizar, em frações de hora, cálculos que levariam dias para serem realizados com mãos humanas, tornando possível a decifração das mensagens criptografadas dos alemães e mudando o rumo do embate entre Aliados e as forças do Eixo. O Jogo da Imitação resume essa participação de Turing que durante muito tempo foi omitida (e de certa forma negligenciada) pelo governo britânico, mas toma liberdade de mais na construção do protagonista, incrementando elementos fictícios ao seu caráter e sua trajetória que desvirtuam a imagem do grande matemático.

O roteiro cobre basicamente os anos em que Turing (Cumberbatch) se dedicou aos trabalhos de cripto-analista na chamada Cabana 8 (Hut 8) em uma base militar secreta em Bletchley Park, Inglaterra. Ainda assim, há frequentes flashbacks que remontam um passado conturbado de Turing e flashfowards  para um futuro pós-guerra onde um fictício policial é quem dá a ignição da narrativa ao decidir investigar o passado do protagonista após uma denúncia de roubo mal explicada em sua casa.

O detetive Robert Nock (Kinnear) poderia ter sido uma invenção magnífica não fosse a prepotência dos produtores. Nock faz o papel de um juiz imparcial, é a personagem referente à cada espectador sentado na sala de cinema que está querendo ouvir a história de Turing, sem julgá-lo. Mas o roteiro de Moore insere fatos irreais na vida do protagonista que nada acrescentam à narrativa, muito pelo contrário, somente o atribui ares novelesco (por exemplo, Alan sempre se manteve muito próximo à família de Christopher e nunca deu este nome à sua máquina; também nunca foi suspeito de espionagem). Tal mecanismo cinematográfico só evidencia uma incapacidade de dar vida de uma maneira artística/inovativa a uma extraordinária história como a de Turing.

Felizmente essas interferências não chegam a estragar a experiência da ida ao cinema. O longa apresenta sim uma grande homenagem àquele que foi um dos maiores cientista do século passado e boa parte dessa conquista reside na figura de Cumberbatch, que admiravelmente dá vida a um complexo e atormentado Alan Turing. O Ator britânico não só transborda originalidade nas inúmeras excentricidades que caracterizam sua personagem como também nas sutis demonstrações da sensibilidade que ele possuía. O corpo de atores que o acompanham também não deixa a desejar sustentando sua atuação, em especial Keira Knightley, que faz o melhor trabalho de sua carreira até aqui.

Para alguns será perceptível uma falta de profundidade para com a atividade que a equipe da Cabana 8 realizava. O próprio funcionamento da máquina Enigma não é apresentado, apenas sugerido, impedindo o entendimento do espectador da real dificuldade que aqueles especialistas estavam enfrentando. Ao invés, Tyldum preferiu utilizar esse tempo para inserir imagens aleatórias de bombardeios típicos de guerras que tanto já estamos familiarizados. Essa tentativa de atribuir uma responsabilidade pela demora que estaria levando a construção da máquina de Turing ocorre completamente desconexa do enredo do longa. Seria mais plausível se o diretor tivesse tentado mostrar os efeitos da guerra como realmente eram sentidos por aqueles que viveram longe das trincheiras.

Por fim, O Jogo Da Imitação é um filme que funciona muito mais pela própria história de Alan Turing e pelas ótimas atuações do elenco que pelo trabalho da direção e roteiro. Exime o governo britânico de críticas pela sua crueldade mas mostra ao mundo um dos gênios que já o habitou.


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