A Separação

        

 
Asghar Farhadi cria um cenário tão real e original que fica difícil centralizar um único tema ou questão que defina a temática deste filme. Temos uma exemplificação do processo judiciário do Irã, da profunda importância religiosa no dia a dia das pessoas e de como o medo e a insegurança podem "levar" a cometer pecados que cada indivíduo tenta auto justificar.

O roteiro (também de Farhadi), que é o que mais impressiona neste longa, acompanha o desencadear de acontecimentos que ocorre com a família do casal Nader (Moadi) e Simin (Hatami) desde que ela pede o divórcio. Mas as dificuldades surgem mesmo quando Razieh (Bayat), a diarista contratada por Nader para cuidar da casa e de seu pai que tem doença de Alzheimer, acaba sofrendo um acidente ao discutir com seu patrão e aborta uma gravidez de quase 5 meses. O marido de Raizeh decide processar Nader, que usa como defesa o fato de estava fora de si porquê quando chegou em casa encontrou seu pai quase morto amarrado à cama e sem a presença da diarista.

Mas o que é admirável aqui é que o roteiro parece se desenvolver naturalmente, como se nada fosse realmente definido e o desenrolar da trama se desse da forma mais natural possível. São inúmeros detalhes que se mostram cruciais tornando a desavença entre as famílias cada vez mais complicada. Além do que, a dinâmica do filme fica muito mais interessante devido à forma como é feito o julgamento do caso, colocando todos frente a um juiz, o que caracteriza praticamente um ambiente de "barraco".

A questão religiosa também surge como integrante da história, representada principalmente do ponto de vista da jovem Termeh, filha de Nader e Simin, que, por não enxergar as consequências de certas afirmações perante o juiz, acredita que a única coisa que deva ser feita é dizer a verdade. Mas a religiosidade e o perigo de se quebrar as regras impostas por Alá, pelo Alcorão, também ficam explícitas em diversas ações dos adultos, como por exemplo na cena em que Raizeh liga para uma espécie de disk Alá e pergunta se é pecado ela limpar um senhor de 80 anos que não consegue fazer por si só. 

O trabalho de Farhadi na direção também ajuda a dinâmica do filme já que ele constantemente pousa sua câmera do ponto de vista dos olhos dos personagens, fazendo com que os que falam o faça diretamente para o espectador, como se cada um quisesse defender suas versões e inocência a nós. É comum também vermos planos onde alguém observa outros personagens, como se estivesse (e realmente estão) a julgar as atitudes deles. E estes planos de filmagens é o que dão força ao que talvez seja a premissa do longa, mostrar que há sempre o outro lado em uma discussão, fatos que não justificam certos atos mas podem explicá-los.

E a mensagem que fica de A Separação é um ataque às religiões ao demonstrar que o nível de desespero de um ser é uma disputa contra o nível da fidelidade religiosa e que por mais dedicado que um pai seja quanto a formação do caráter de seus filhos, a horas em que, involuntariamente, se ensina a prezar pelo que se deseja acima de qualquer crença.

Um comentário:

  1. Mais um belo filme Iraniano, vale conferir "Filhos do Paraíso". Filme retrata a cultura dos países árabes, casamento e como a mulher ainda é tratada nesses países.
    Final diferente, onde cabe o telespectador definir o final. Com quem deve ficar a filha do casal?

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