A Parte dos Anjos

Título Original: The Angels' Share
País:Escócia
Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
Elenco Principal: Paul Brannigan e John Henshaw
Estreia no Brasil: Março de 2013



Agraciado com o prêmio do júri no festival de Cannes, o novo longa de Ken Loach retrata uma suave fantasia no meio daquela violência tantas vezes mostrada pelas suas câmeras. Fantasia por mudar o clima do longa de dramático para divertido e aventureiro, onde tudo conspira para o sucesso dos nossos heróis. Suave pois essa mudança não é trágica, tornando-o uma espécie de mensagem de que, por mais absurda que pareça, há sempre uma esperança.

O roteiro é novamente escrito pelo seu parceiro de longa data, Paul Laverty, centrando no jovem delinquente Robbie (Brannigan), morador de Glasgow na Escócia. Com um largo histórico de brigas entre gangues, roubos e prisões, ele está tentando se afastar de seu mundo sombrio para reconstruir sua vida ao lado de sua namorada (Reilly) e o filho recém-nascido, Luke. O passo inicial se dá ao conhecer Harry (Henshaw), coordenador dos trabalhos comunitários, que leva Robbie e os companheiros a conhecer a arte de degustação de uísques. No entanto, a solução encontrada por eles envolve mais que o aprendizado deste ofício, envolve um assalto a uma destilaria.

Como já dito, Loach e Laverty dividem o filme em duas partes com ritmos distintos. Na primeira é feito uma pequena introdução dos companheiros de Robbie e seus respectivos distúrbios de comportamento, e uma extensa demonstração do dilema diário em que o protagonista vive. Cumprir sansões judiciais, procurar um emprego, fugir de gangues que cultivam uma briga herdade de geração a geração, além de tentar construir um lar. À medida que ele vai se aproximando de Harry, com todo o empenho deste para permitir uma reabilitação do garoto, é que o peso dramático da trama vai ganhando ares cômicos até se tornar uma grande aventura.

O filme ganha bastante realidade quando escala o jovem Paul Brannigan para representar Robbie. Filhos de pais drogados, Paul cresceu em meio a essa violência retratada nos filmes de Loach, na própria Glasgow. Talvez isso o tenha ajudado, mas de qualquer forma sua atuação aqui lhe rendeu o prêmio de melhor atuação do ano pela academia britânica de cinema (BFTA).

Embora talvez tenha desejado apenas criar um entretenimento em cima de uma dura realidade que é cada vez mais recorrente entre os jovens escoceses, Loach não deixa de expor e criticar os problemas sociais nas entrelinhas de seu trabalho. Ao conhecermos Robbie, Mo (Riggins), Rhino (Ruane) e o lunático (e hilário) Albert (Maitland), vemos que a justiça e seus sistema de penas não é, de forma alguma, uma solução para este tipo de comportamento. Cabe a cidadãos de bom coração como Harry a missão de tentar reabilitar a conduta desses jovens problemáticos.

Mais do que a mera porção do uísque que evapora nos barris das destilarias, a verdadeira parte dos anjos de Loach é a partilha por igual entre os amigos, pelos sucessos e fracassos na vida. É a tentativa de reabilitar o sistema para que um dia suas sanções sejam mais efetivas que um conto de fada.




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