O abismo prateado

Título Original: O abismo prateado
País: Brasil
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Beatriz Bracher
Elenco Principal: Alessandra Negrini e Thiago Martins
Estreia no Brasil: Abril de 2013




Inspirado livremente na canção Olhos nos olhos de Chico Buarque de Holanda, o novo longa, daquele que talvez seja o mais original e perceptivo dos diretores brasileiro em atividade, Karim Aïnouz, explora a confusão emocional de uma mulher ao descobrir repentinamente que seu marido lhe abandonou. Dessa forma, não se busca um estudo tradicional de personagem, mas sim a transmissão total dos sentimentos da protagonista ao público. Essa missão é cumprida com esmero pela direção mas é o roteiro quem afunda esse projeto de forte premissa.

Violeta (Negrini) é a jovem dentista que recebe o adeus do marido na caixa postal do celular. Djalma (Otto Jr.) se aproveita de uma viagem a trabalho para Porto Alegre para abandonar de vez sua esposa e o filho de 14 anos. Ela então tenta na mesma noite ir à procura do marido no sul do país mas, ao descobrir que terá que esperar até a manhã seguinte para o próximo voo, embarca na noite carioca com seu desespero e inquietude interagindo com os mais diversos elementos da cidade.

Concentrando sua câmera muito próximo dos rostos de seus personagens, Karim já transmite o sufoco que a relação causa em Djalma e, posteriormente, toda a aflição de sua mulher abandonada. E a ausência de diálogos dão força ao efeito psicológico buscado tanto quanto a interpretação de Alessandra Negrini (é impossível não se impacientar diante de quase todas as cenas). De início, a atriz soa intensa e imponente frente as câmeras, mas pouco a pouco, o que pareceria ser uma estonteante atuação, cai em um artificialismo: ela meio que não consegue se esquecer das câmeras ao redor e acaba desencarnando de sua personagem. Além disso, o diretor não consegue causar a mudança de rumo necessária quando Nassir (Martins) e sua filha cruzam o caminho de Violeta, este é o ponto chave que permite-a equilibrar suas emoções. Tem-se assim um arrastamento entediante da história que no fundo já sabemos como vai terminar.

Dito isso, O abismo prateado seria ainda um bom filme pelos feitos de seu diretor mas, é quando o roteiro resolve participar mais ativamente da trama que um verdadeiro abismo se abre frente ao longa. As sentenças são demasiadas simples e falham na tentativa desnecessária de imprimir uma profundidade nas questão filosóficas ali presentes. Isso acaba ressaltando as atuações extremamente amadoras, que até então poderiam ser ignoradas, e tudo parece um teatro medieval (nem mesmo a simples despedida de mãe e filho, ao se separarem no caminho do trabalho e da escola, soa realística).

Vivendo momento a momento, fica então a sensação de que, já que Karim fez um excelente trabalho ao conseguir filmar toda a agonia de Violeta, este poderia ter sido um maravilhoso filme se ele também tivesse captado os pensamentos de seus personagens, de tal maneira que o roteiro pudesse ser desprezado.


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