A Caça

Título Original: Jagten
País: Dinamarca
Direção: Thomas Vinterberg
Roteiro: Tobias Lindholm e Vinterberg
Elenco: Mads Mikkelsen e Thomas Bo Larsen
Estreia no Brasil: Março de 2013




A culpa é um sentimento devastador que pode até ser instantaneamente aniquilado com a confissão do ato cometido. Se o erro é de conhecimento público dos envolvidos o pedido de desculpas não só é a própria confissão como a remissão de seus atos. E se o erro não for tão claro assim? Mais ainda, e se a culpa for daqueles que acusaram e não do acusado? A remissão não seria tão simples.

Lucas (Mikkelsen) é um professor de uma creche na pequena cidade de Donish, Dinamarca, que é acusado erroneamente de abusar sexualmente de seus alunos. O roteiro acompanha então, mais do ponto de vista do inocente, o desenrolar do caso policial, desde a formalização da acusação, através dos meios grotescos de interrogação de uma criança, até o ostracismo que surge da ignorância humana.

Mais do que deixar tudo claro ao espectador sobre a inocência do protagonista, o roteiro de Lindholm (coproduzido com o diretor) é consistente por saber introduzir as personagens, seus ambientes e suas rotineiras vidas, além do desenrolar das atitudes que culminam na acusação do abuso. Nesse caso, ele nos mostra a confusão que se forma na cabeça da pequena Klara (Annika Wedderkop) ao não conseguir processar tanta informação que seus olhos veem. Em certo momento ela se agacha com as mãos aos ouvidos como quem não aguenta mais o mundo ao seu redor.

O clima tenso que a trama cria é muito bem estabelecido na câmera de Vinterberg. Investindo nas feições de seus personagens ele sempre busca uma proximidade com os rostos dos artistas e monta seus cenários de forma que possamos não nos distrair com o ambiente e contemplar os olhares trocados em cada diálogo. Há um ganho de força também no trabalho de Mikkelsen que cria a figura de um professor divertido, atencioso e amigo. Alguém calmo e sensato que vai perdendo o controle à medida que sua condição de vítima o violenta também fisicamente.

E é de lacrimejar os olhos quando vemos a persistência de Lucas em levar sua vida normal após a não comprovação dos fatos pela justiça local ao passo que a sociedade resolve por si só estabelecer uma punição. O filme nos mostra o quão paranoica possa estar nossa sociedade, então baluarte contra o caos. De tão acostumados às atrocidades que ocorrem do outro lado das televisões, Vinterberg critica o instinto humano de proteção própria, onde julgamos muito mais saudável e seguro expulsarmos um mal-entendido (ou até mesmo suspeita) transformando-o em fato consumado.

Enquanto Klara inventa uma história para chamar atenção ao seu descontentamento com os que lhe estão à volta, a sociedade não busca adentrar na situação para entender a origem do suposto problema. É como se fosse necessário que tal história fosse verdade para assim estar corretamente inserida no mundo cruel que habitam. E Lucas pode não ser culpado, mas também nunca mais será inocente.


Um comentário:

  1. Muito bom, realmente!
    Nessa linha tem um filme escocês What Richard Did, A abordagem é exatamente o oposto da A Caça.

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