Capitão Phillips

Título Original: Captain Phillips
País: EUA
Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Billy Ray
Elenco Principal: Tom Hanks e Barkhad Abdi
Estreia no Brasil: Novembro de 2013



Por incrível que pareça, a pirataria, em seu sentido original, é uma atividade nada ultrapassada mas muito frequente em certas áreas do globo. O que é ultrapassado, e mesquinho, é que ainda hoje há displicência na falta de compromisso com o que se relata na concepção de filmes como é o caso deste longa, sobre um sequestro ocorrido em 2009. Não é só uma questão de vangloriar atitudes (pseudo) heroicas do exército norte-americano, onde matar é sempre a solução certa que salva a humanidade, mas é pobre decidir relatar um fato real e de repercussão mundial sem sequer aprofundar-se nas personagens chaves da trama. Saímos do cinema sem saber quem foi o capitão Phillips, muito menos os piratas.

Richard Phillips (Hanks) é um capitão da marinha mercante dos estados unidos que está levando mantimentos da ONU a países africanos. No entanto, seu navio, o Maersk Alabama, é tomado por quatro piratas somalis que tentam fazer a tripulação de refém para conseguir um bom resgate. O líder deles é surpreendido e feito de refém pela tripulação que negocia sua liberação se todos os piratas abandonarem o navio. Os piratas o fazem, mas conseguem levar junto o capitão, mantendo-o refém por 5 dias na baleeira do navio.

Do ponto de vista cinematográfico, o roteiro é mal elaborado por se concentrar apenas em desenvolver cenas de ação para o ocorrido. Não há uma apresentação adequada do protagonista, muito menos uma descrição mais satisfatória de toda a situação. A Somália é um dos países mais pobres e corruptos do mundo, desde o início dos anos 1990 é atormentada por guerras civis que mantém seu território muito divido com administrações autônomas. A pesca, que seria uma das atividades econômicas mais fortes, vem sendo expressivamente prejudicada devido a inúmeras embarcações ilegais da Europa e Ásia e por um sério problema de lixo tóxico, enterrados nos territórios somalis por empresas internacionais por mais de 15 anos.

Não é uma questão de justificar o crime, mas de abordar a trama de uma forma completa. A visão minimalista e preconceituosa do cineasta americano é bem representada no momento em que um dos piratas se vangloria de uma conquista passada, onde arrecadou seis milhões de dólares em um resgate, mas é questionado pelo personagem de Tom Hanks: Então porque você ainda está aqui? Pesquisas realizadas no país mostram que o dinheiro vindo da pirataria muito serviu para desenvolver cidades, comerciantes podem se dar ao "luxo" de ter energia elétrica comprando um gerador. Não se trata de enriquecer e mudar para Miami. É preciso sobreviver em meio a extrema pobreza e as guerras.

Além disso há toda a polêmica envolvendo o capitão do Maersk Alabama quando o mesmo foi publicamente denunciado por membros da tripulação por atitude imprudente. Phillips teria sido alertado diversas vezes não só da pirataria na região como da exigência de se manter uma distância mínima de 600 milhas marítimas da costa. A ordem nunca foi cumprida. O assunto é brevemente tratado pela cena em que o capitão lê um e-mail de alerta, mas nada fica claro, como esteve em todos os noticiários.

É uma pena quando analisamos o cinema sem muito falar de cinema. Mas isso só mostra o quão inconsciente ainda é o vício americano de construir heróis mundiais a partir de sua prepotência. O país não está perdido, dado que a produção independente dos EUA tem um papel relevante no cinema mundial. É só a inescrupulosidade dos que podem mais por terem mais.


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