A Hora Mais Escura

Título Original: Zero Dark Thirty
País: EUA
Direção: Kathryn Begelow
Roteiro: Mark Boal
Elenco Principal: Jessica Chastain
Estreia no Brasil: Fevereiro de 2013




Quando começa a projeção do novo longa-metragem da diretora Bigelow a mensagem que surge, baseado em relatos de primeira mão dos eventos reais, já explicita uma escolha mais jornalística para a narrativa da trama e a intenção em distanciar-se dos tão criticados baseados em fatos reais. Então, antes mesmo que qualquer imagem apareça nas telonas, o áudio de várias ligações para as autoridades locais mostram o desespero de muitos dos que se envolveram diretamente com o atentado do 11 de Setembro de 2001. Tem-se assim, em poucos minutos, uma objetiva inserção do espectador no sentimento que impulsionou a busca implacável do responsável pela morte de cerca de 3.000 norte americanos.


Para apresentar os dez anos dessa caçada, Mark Boal optou pela criação de uma personagem central fictícia, Maya (Chastain), uma agente da CIA que se empenha profissional e pessoalmente na busca por Osama Bin Laden. Passando-se principalmente na embaixada americana no Paquistão, ela enfrenta duros interrogatórios à base de torturas na esperança de conseguir pistas que leve a encontrar o terrorista chefe da Al-Qaeda.

O problema é que acaba sendo a própria Maya a responsável pelos pontos baixos do roteiro, deixando claro a necessidade do cinema americano de se inventar heróis nacionais. Não por culpa da atriz, que faz um esplêndido trabalho representando a frustração de toda agência de inteligência americana em serem maus sucedidos no seu trabalho. Chastain consegue demonstrar o cansaço mas também a determinação naqueles longos e difíceis anos. Mas o seu script é quem faz sua personagem vivenciar momentos fúteis que soam ridículos e indigestos na trama. Em certo momento Maya afirma, com a câmera centrando seu rosto na tela, vou encontrar todos os envolvidos nessa operação e depois vou matar Bin Laden. Estaria esta frase no roteiro antes de Maio de 2011? Essa pobreza artística que se vê em certas cenas não se sobressai sobre o longa como um todo, mas compromete o resultado final.

A direção de Bigelow mostra novamente sua habilidade em criar a tensão e mantê-la além de, no meio do caos que abriga suas tramas, conseguir explorar o emocional de suas personagens. No entanto, a opção de fazer capítulos de certos trechos do longa não foi muito feliz, já que esta separação surge repentinamente na projeção, soando como uma tentativa mal sucedida de organizar o pensamento do público. Além disso, há a discussão política em torno da tortura que ora é representada como um meio produtivo na busca. Mostrar isso era necessário, assim como o escândalo que houve quando tudo veio à tona, mas como a própria FBI afirmou em 2011, nenhuma informação crucial que levasse a Bin Laden foi obtida através de tortura de um detento.

Seguindo o tradicional e guardando o seu melhor para o final, vemos um desfecho tenso e impactante que soa muito realístico, embora nunca tenha estado em uma operação militar. E se a primeira frase, como já disse, revela muito sobre o filme que virá, a última remete ao futuro incerto sobre a guerra contra terrorismo após a morte de Osama. Para onde quer ir? - pergunta o piloto, que não obtém uma resposta de Maya.


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